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sábado, 14 de novembro de 2015

Um Reading para pensar



'6 Poets at the Six Gallery'


# CAPA # SIX AROUND 60 # SEIS POETAS # READINGS # UM POEMA # UM CONVITE


'Six Gallery reading' - uma noite mágica! _[Poeta Xandu_]




A Beat Generation surge como um vulcão de escritores, algo quente, ácido, sujo, a revelar em verso e prosa o lado sombrio do american way of life dos anos 50. Neste fazer literário, há um desafio aos cânones, liberdade para ser fiel aos próprios sentidos, quando experiências formais e temas pessoais somam-se a coragem de pequenas editoras, o que denominamos "literatura marginal". Vencido o choque, aquela geração hoje é admirada por sua atitude rebelde, prestigiada por mestres literatos, que a inscrevem numa linha do tempo tida como a "invenção do jovem", categoria da qual presume-se fortes anseios por liberdade, em oposição às tradições, ao Estado, rumo ao lazer e ao escape do cotidiano.




Para além da ruptura com regras sociais, este ensaio busca recuperar significados possíveis para uma noite mágica de poesia: afinal, o que este reading na Six Gallery poderia contribuir para nossa atual geração de poetas? Sigamos pela intuição, fontes simples, consultas na Poetry Foundation e Wikipedia, sem maiores ambições que um bate-papo.




Difícil dar rótulos aos escritores Beat, talvez mereçam um destaque amplo, que tomo emprestado do modernismo no Brasil. Como Drummond, ao tratar da redação que lhe valeu a expulsão da escola, quando sentiu a "face queimar" _e mais nada importa tanto a um poeta. Para os Beats a vida cotidiana era Arte; a ortografia perdia-se para a língua falada; as questões pessoais eram também um situar-se entre amigos, na cidade, no país, no mundo. Frequentando bares e cabarés, mergulhados na vida boêmia, próximos da decadência moral, mas em qualquer tempo esses são momentos também para o encontro, para o digest intelectual, temperar saberes e vivências.




Rótulos. Por trazer à superfície o universo outsider da sociedade, a Beat Generation ocupou nesfasto lugar no imaginário social, onde viceja a moral puritana da velha USA. Para além dos clichês, essa literatura do "escape" avançou pela contra-cultura, por dois movimentos distintos: partiram em direção ao entorno, grupos de afinidades, amigos a dividir linguagem, aventuras, ser independente das tendências de mercado. E num movimento interno, buscava-se expandir a mente, através das drogas mais banais, ou algo mais profundo, transcendental, próprio das religiões antigas.




Entre loucuras e utopias possíveis, a Beat Generation descortinou mentiras sociais, expôs a opressão dos centros urbanos que alimenta os manicômios e prisões. Bandeiras de ontem aos nossos dias, tocavam-lhes questões raciais, ambientais, opunham-se às guerras, alargaram relações afetivas, as formas de amor, fosse entre amigos, homossexualismo, ou trocas no poliamor. Diante dos velhos tabus, melhor vê-los como um grupo de jovens a repensar fronteiras culturais, internas aos EUA, chegando aos rituais indígenas, ao xamanismo; e pra fora, vivenciar outros países - difundiram o budismo japonês, por exemplo. Em transbordo poético, _a Beat Generation como parte brilhante do melting-pot made in USA dos anos 50-60.




Nesse clima de transgressão, as primeiras obras da Beat Generation seriam lançadas em sequência, por pequenos livreiros marginais: Allen Ginsberg com Uivo, ou Howl (1956), Jack Kerouac com On the Road (1957), William Burroughs com The Naked Lunch (1959). Foram livros que causaram escândalo na sociedade, críticas no meio acadêmico, censuras por parte de editores, agressões através da imprensa, processos na justiça.




Editoras alternativas cumpriram papel fundamental. William Burroughs trouxe das sombras toda sua drogadição e libertinagem; só encontrou publicação para o seu The Naked Lunch pela Olympia Press, editora de ficção erótica sediada na França, país menos intolerante. Jack Kerouac romanceou suas viagens de carona, bebedeiras e aventuras amorosas; as malandragens do amigo Neal Cassady elevado ao status de herói. Só foi publicado graças ao esforço de Malcolm Cowley, antigo jornalista de esquerda, habituado a fazer revisões. Após desdobrar-se sobre os originais de Kerouac, desafiou o conselho editorial da Viking Press, até obter aprovação: surgiu o livro 'On the Road' [*], marco da Beat Generation.





*Acerca das viagens de Kerouac, elas ocorreram no fim dos anos 40, e On the Road foi escrito em menos de um mês, datilografados em rolos de papel contínuo (The Scroll-1951), uma parte tornou-se o livro Visions of Cody (McGraw-Hill-1972), baseado em relatos gravados, enquanto "On the Road" foi revisado a luz dos originais, sem cortes, portanto; relançado em 2007 com título 'On the Road: The Original Scroll', por circunstância dos 50 anos da primeira publicação.




Em sua livraria, Lawrence Ferlinghetti chegou a reservar uma estante para livros censurados (banned books). De seu interesse por escritores marginais nasceu a livraria e editora City Lights (1955), que lançou Howl como livro de bolso, primeiro livro de poemas de Allen Ginsberg. Seguido ao lançamento, veio a reprovação na opinião pública e a interdição na justiça; seu livro gerou debates no campo das artes e nos direitos de livre expressão; até o entendimento de que uma peça artística não deve ser censurada por aspectos morais. No entanto, esse mesmo embate entre moral e arte perdura até hoje.




Apesar dos destaques negativos na mídia, os Beats cativaram gerações de libertários, mesmo se longe do atual "politicamente correto". Em Nova York houve um start acadêmico na Universidade de Columbia, momento para ler William Blake, D.H.Lawrence, Walt Whitman, os clássicos, e contemporâneos da época, esses chamados escritores da "geração perdida". Havia o underworld frequentado por Burroughs; ou como ocorreu a Herbert Huncke, ver-se como um negro "fodido" (beat and down), a vagar sem-teto pelas ruas. De dentro do manicômio, Carl Salomon absorveu dadaismo, a poesia de Artaud, daí a lançar-se em insólitas leituras com a boca cheia de comida.




Viagens importavam aos Beats: ir pelo interior dos EUA até o México davam-lhes sentidos regionais, longe das metrópoles... Embarcar em navios mercantes, poder ir a França de Rimbaud, Artaud, Baudelaire; experimentar a vida na Espanha, no norte da África; ir ao Uruguai - de encontro ao experimentalismo do Conde de Lautréamont. Mas na vida noturna do Greenwich Village, codensavam-se as experiências Beat diante das batidas (Beat) de Jazz. Beat agora como santidade, ou beatitude, pela narrativa purificadora de Kerouac a observar o brilho na face dos "vagabundos iluminados".




Da costa leste para oeste, pesou o olhar atento de Neal Cassady, aquele mitologizado por Kerouac, já casado com a poeta Carolyn Cassady, cujo incentivo levou a Allen Ginsberg a migrar para a San Francisco. Poetas experientes, como William Carlos Williams e Robert Duncan, forjaram redes de trocas entre gerações e lugares distantes, como agitadores culturais. Especialmente, estreitaram-se os laços entre o Black Mountain College, da Carolina do Norte, e a Universidade da Califórnia. Nesse entrelace: professores e alunos, tribos poéticas e pequenas editoras de todo o país convergiram para a San Francisco Renassaince - um movimento de vanguarda literária.




Ginsberg logo mergulhou no movimento artístico local, quando conheceu Peter Orlovsky, seu amante e de grande incentivo para seu poema Uivo - escrito em 1954. Existiam os saraus na casa de Kenneth Rexroth, e Michael McClure já desenvolvia técnicas de expressão corporal para sua fala poética. Poetas e ativistas da produção cultural circulavam pelas pequenas galerias de arte, e compunham a elite intelectual, desde a Universidade da Califórnia-Berkeley, ou a Estadual de San Francisco, ou o San Francisco Art Institute, local também aberto para leituras poéticas.




Expoentes da San Francisco Renassaince, Philip Lamantia, Michael McClure, Gary Snyder e Philip Whalen já tinham poemas publicados em revistas universitárias. Tornaram-se parte da Beat Generation neste mesmo período. Lamantia, chegou a trabalhar diretamente com surrealistas, em Nova York, em publicações de André Breton e Max Ernst. De volta a cidade natal, iniciou um período de maior fertilidade poética por influência de Ginsberg. Vindo do Oregon, ao norte da costa oeste, Snyder se especializou em filosofias orientais, introduzindo o zen-budismo no seio dos Beats, - The Dharma Bums, livro de Kerouac, descreve em detalhes esse novo momento. Philip Whalen, também budista, entrou como poeta convidado de Snyder na leitura da Six Gallery.




Michael McClure, como Ginsberg, também teve sua estreia em 1956, com o livro Passage. Seu lançamento se deu pela The Jargon Society, as edições caseiras de Jonathan Williams, que estudava língua inglesa em Berkeley. Ligada às pequenas tribos poéticas, a Jargon era sediada na Carolina do Norte, e do sofá de casa, Williams publicou vários Beats, como Charles Olson, Amiri Baraka, Diane di Prima, Lawrence Ferlinghetti, Robert Creeley, Robert Duncan, Denise Levertov etc.. Por fim: publicou a primeira biografia de Kerouac.




Para construir o "6 Poets at the Six Gallery", Wally Hedrick, como dono da galeria, convidou Ginsberg para comandar essa primeira experiência. Foi a alavanca para novas leituras, lançando os poetas Beat por diversos ambientes intelectuais e artísticos. Inclusive no jazz: música e poesia com Lamantia, Jack Kerouac, Howard Hart, David Antrim, David Amram.




Em 7 de outubro de 1955, cerca de cem pessoas testemunharam o fenômeno Beat na Galeria Six, contando muitos dos poetas já citados acima e especialmente Lawrence Ferlinghetti, da livraria City Lights. Nossos heróis: Kenneth Rexroth ficou como mestre de cerimônias, Philip Lamantia, que leu poemas de John Hoffman, seu amigo desaparecido num vulcão do México; seguido de Philip Whalen, Michael McClure, Allen Ginsberg, Gary Snyder. O sexto poeta seria Jack Keraouac, que preferiu não ler. Do reading na Six gallery, Snyder e McClure continuam vivos e ativos neste 2015, o que acrescenta um brilho extra à esta revisão.


Fechamos assim um breve histórico de um grupo de jovens escritores no momento em que se projetam para o mundo da literatura, e cujo ímpeto de liberdade tanto nos comove: a Beat Generation como uma literatura de vivências fronteiriças, mágicas, múltiplas.







[Texto: Poeta Xandu]



'6 Poets at the Six Gallery' - Nossa releitura ocorreu em 8 de outubro de 2015, foram poemas coletados do livro A Nova Visão de Blake aos Beats, de Michael Mcclure, com tradução de Daniel Bueno, Luiza Leite & Sergio Cohn, lançado pela Azougue Editoral [2005]; e os poemas de John Hoffman, que foram livremente traduzidos por Marcelo Nietzsche, a partir do livro Tau & Journey to the End - Philip Lamantia, John Hoffman, lançado pela City Lights Pocket Poets Series [2008].
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Um Convite


7 de Outubro de 2015 [4ª-FEIRA] às 20hs, na Galeria Índica

LOCAL: R. Visconde de Pirajá, 82 Lj. 117 [sub]

**APOIO: Azougue Editorial



APRESENTAÇÃO:


Através de uma homenagem aos 60 anos da leitura na Six Gallery, quando a Beat Generation se fez conhecida nacionalmente nos Estados Unidos, procuramos fazer uma "releitura" do citado evento apresentando, principalmente, por meio de poesia as relações afetivas de construção e de projeção da beat generation.

Situamos a beat generation em seu tempo histórico e cultural.

Com isso evidenciamos seu diálogo não só com uma "tradição marginal" norte-americana mas com as vanguardas históricas e seu princípio de trazer a vida para a arte - notadamente com o surrealismo.

Seu comprometimento com o mundo por uma ação não só literáriamente. Seu engajamento ecológico. Sua "investigações" e opções místicas não ocidentais. Sua coneções com o jazz, com o rock, com a fotografia, basicamente com Robert Frank, que dirigiu Pull My Daisy, com roteiro e narração de Jack Kerouac e participação de Corso, Burroughs.

....

Além de poesia pretendemos fazer uso de outros recursos como o filme acima citado e trilha sonora de, entre outros, Charlie Parker.
....

Após estaremos disponíveis para diálogo com as pessoas interessadas. ....


[Convite: Marcelo Nietzsche e grupo "6around60"]


LEITURAS ADICIONAIS


Para além das leituras deste dia "Six Around 60", o evento comporta uma TERCEIRA PARTE: será aberta aos demais expoentes da geração Beat, nomes inevitáveis, como Gregory Corso, Carl Solomon, William Carlos Williams, Bob Kaufman, LeRoi Jones (Amiri Baraka) etc.. Ou as MULHERES, quase sempre esquecidas entre os Beats, como Joyce Johnson, Denise Levertov, Diane di Prima, Patti Smith etc.. Referências históricas que deram direção a literatura Beat, poetas como: Walt Whitman, William Blake, D.H.Lawrence, Rimbaud, Artaud, Baudelaire, Conde de Lautréamont, etc..

Poderão ser lidos poemas da geração posterior, "The Postbeat Poets", nomes como Anne Waldman, David Cope, Eileen Myles, Lesléa Newman, Jim Cohn, Randy Roark etc.. Divinal, meteórico, ocorreu com uma vasta safra de MÚSICOS, fosse no folk, rock, punk, a poesia intrincada em suas letras. Só no The Doors, Jim Morrison e Ray Manzarek eram grandes entusiastas da poesia falada, íntimos de vários Beats. Famosos na música pop norte-americana, como The Grateful Dead, Mick Jagger, Lou Reed, Tom Waits, muitos outros fecharam nessa corrente também.
Finalmente, os Beats Latino-Americanos: Eco Conteporáneo e Nueva Solidariedad na Argentina; Nadaístas na Colômbia. Ou do Brasil, como Luis Carlos Maciel [difusor da contracultura]; Roberto Piva, desde seu livro de estreia [Paranoia-1963]; José Agripino de Paula [Panamérica-1967]. Existiram Beats brasileiros, como Wally Salomão [Navilouca]; Torquato Neto; Roberto Bicelli; Alberto Marsicano; Antonio Bivar... Eduardo Bueno! E os atuais: espaços em branco deixados para nomes sugeridos, ou como quiser preenchê-los e etc. etc. etc..
Todos à leitura!

- Textos de Claudio Willer sobre:
"Conde de Lautreamont" [click!]

BEAT AND ...JAZZ...









Poetry for the Beat Generation - Jack Kerouac já vinha empolgado com a música, especialmente o Bebop Jazz, quando em 1957 foi agendado para uma performance acompanhada de jazz no Village Vanguard. Na noite de inauguração Kerouac estava muito nervoso e tímido, foi um desastre. Na segunda apresentação, Kerouac foi acompanhado por Steve Allen ao piano, que logo sugeriu que gravassem um áudio pela Dot Records.



Como havia sido um sucesso aquela noite, Kerouac preferiu em gravar de uma só vez, sem cortes, no improviso, mas o resultado não foi aprovado pelo presidente da gravadora, que achou o conteúdo obsceno, de gosto duvidoso, e mandou destruir a cópia.



Steve Allen não se conformou. Levou os originais para a Hanover Records, onde a ideia foi aceita e se tornou o álbum Poetry for the Beat Generation, o primeiro dos três discos que atualmente integram o pacote _The Jack Kerouac Collection.



- trecho: by Jack Kerouac e Steve Allen (on youtube):
'Charlie Parker' [click!]

- Charlie Parker (on youtube):
"Bebop" [click!]

Audio (on Archive Jazz Topics):
"Bird and Diz" [click!]














Disco: Bird and Diz

Gravadora: Verve Records

Ano: 1950

Banda:

Charlie Parker
[Sax Alto]

Dizzy Gillespie
[Trumpete]

Thelonious Monk
[Piano]

Curly Russell
[Baixo]

Buddy Rich
[Bateria]


SESSÃO CINE-CLUBE



Pull My Daisy
**O filme será apresentado às 20hs, como abertura do evento, não se atrasem!









Ficha Técnica:


[http://imdb.com/]











Ano: 1959
País: USA
Duração: Curta Metragem (30 min.)

Direção: Robert Frank e Alfred Leslie
*com intervenções de Jack Kerouac.

Narração: Jack Kerouac.

Elenco:
Allen Ginsberg,
Peter Orlovsky,
Gregory Corso,
Larry Rivers,
Alice Neel,
David Amram,
Richard Bellamy
Delphine Seyrig
Sally Gross
Pablo Frank,
Robert Frank.

Sinopse:
Baseado num incidente na vida do casal Neal e Carolyn Cassady, o filme conta a história de um jantar, quando um agente ferroviário e sua esposa recebem um respeitável padre em sua casa. No mesmo encontro, chegam amigos de bar do marido, gente de vida boêmia, que causam um choque entre sagrado e profano, quebram a cerimônia, iniciam uma festa.

- assista o filme (on vimeo):
"Pull My Daisy" [click!]

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